Você investiu no Tesouro Direto, o porto seguro da economia brasileira. Escolheu um título que prometia uma boa rentabilidade e foi dormir tranquilo. Mas, ao abrir o extrato da corretora dias depois, tomou um susto: o valor está menor do que o que você aplicou. Seu investimento em “renda fixa” está com rentabilidade negativa. Como isso é possível?
Calma. Você não foi enganado e seu dinheiro não sumiu. Você acaba de se deparar com um dos fenômenos mais incompreendidos (e temidos) pelos investidores: a marcação a mercado.
A maioria das pessoas entra em pânico e vende o título no prejuízo, cometendo o pior erro possível. Mas, como engenheiro, posso te garantir: a marcação a mercado não é um defeito, é uma característica do sistema. E quando você entende como o mecanismo funciona, você perde o medo e pode até usá-la a seu favor.
O Princípio Fundamental: Seu Título tem um Preço que Muda
O erro começa ao pensar no seu título do Tesouro como um saldo de poupança. Ele não é. Ele é um ativo, um “componente” que pode ser comprado e vendido a qualquer momento no mercado. E como qualquer ativo, seu preço flutua diariamente.
A marcação a mercado é simplesmente o ato de “calibrar” o preço do seu título todos os dias para refletir seu valor justo de venda no momento presente.
A “Engenharia” da Reprecificação: Um Exemplo Prático
A lógica por trás dessa calibração é baseada no custo de oportunidade. Vamos a um exemplo simples:
- Cenário 1: Hoje, você compra um Tesouro Prefixado que te promete pagar 10% ao ano.
- Cenário 2: Amanhã, por uma mudança na economia, o Tesouro passa a oferecer títulos novos, idênticos ao seu, mas pagando 12% ao ano.
Agora, imagine que você queira vender seu título antigo. Alguém em sã consciência compraria de você um título que paga 10%, se pode comprar um novo direto do governo que paga 12%? Claro que não.
Para que seu título antigo se torne atraente, você é obrigado a vendê-lo com um desconto. O preço dele no mercado cai para compensar a menor rentabilidade. Essa queda no preço é a marcação a mercado negativa.
O contrário também é verdadeiro. Se os juros caíssem para 8%, seu título de 10% se tornaria extremamente valioso, e seu preço de venda no mercado subiria (marcação a mercado positiva).
Quais Títulos Sofrem Mais “Stress”?
Como vimos em nosso Guia Definitivo do Tesouro Direto, essa recalibragem de preços afeta os títulos de formas diferentes:
- Tesouro Selic: Praticamente não sofre, pois sua rentabilidade já se ajusta automaticamente à nova taxa de juros.
- Tesouro Prefixado e Tesouro IPCA+: São os que mais sofrem o impacto, pois suas taxas fixas competem diretamente com as novas taxas do mercado. Quanto mais longo o prazo do título, maior a volatilidade e o efeito da marcação a mercado.
A Regra de Ouro (A “Trava de Segurança” do Sistema)
Aqui está a informação mais importante de todas:
A marcação a mercado SÓ AFETA O SEU BOLSO SE VOCÊ VENDER O TÍTULO ANTES DA DATA DE VENCIMENTO.
Se você comprou um título e o segurar até o final do prazo, você receberá exatamente a rentabilidade que foi contratada no dia da compra, não importa o que aconteça com o preço dele no meio do caminho. A marcação a mercado se torna apenas uma “oscilação contábil” no seu extrato.
Conclusão: Entenda o Sistema, Não se Assuste com o Painel
A marcação a mercado é o “velocímetro” do preço do seu título. Ver o ponteiro oscilar não significa que o motor está quebrado. Significa apenas que as condições da “estrada” (a economia) estão mudando.
O investidor que entende esse mecanismo para de tomar decisões emocionais baseadas nas oscilações do extrato e foca no projeto de longo prazo, confiando na “engenharia” do título que escolheu e sabendo que, no vencimento, o resultado contratado será entregue.
Você já levou um susto com a marcação a mercado? Como você reagiu? Compartilhe sua experiência nos comentários!